Por
Jomar Martins | REVISTA CONSULTOR JURÍDICO
Os
Conselhos Regionais de Contabilidade tem poder de polícia para requisitar
informações e documentos com o propósito de verificar a regularidade do
exercício da atividade contábil pelos contadores. Além do mais, os documentos e
livros da contabilidade da empresa não estão protegidos por nenhum tipo de
sigilo e são, inclusive, de apresentação obrigatória por ocasião das atividades
de fiscalização.
Com
este entendimento, a 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região
derrubou Mandado de Segurança que desobrigava um escritório de Londrina, no
norte paranaense, a apresentar livros e documentos contábeis ao Conselho
Regional de Contabilidade do Paraná.
O
relator do recurso levado à corte pela autarquia federal paranaense,
desembargador federal Luís Alberto D’Azevedo Aurvalle, tomou sua decisão com
base nas disposições dos artigos 10 e 25 do Decreto-Lei 9.295/1946, que atribui
aos CRCs a fiscalização do exercício da atividade contábil.
Aurvalle
afirmou que o Conselho exerceu tão-somente seu poder de fiscalização em relação
às atividades dos contadores. A letra ‘‘c’’ do artigo 10 diz, literalmente:
‘‘fiscalizar o exercício das profissões de contador e guarda-livros, impedindo
e punindo as infrações, e bem assim, enviando às autoridades competentes
minuciosos e documentados relatórios sobre fatos que apurarem, e cuja solução
ou repressão não seja de sua alçada (…)’’. Nesta linha, o CRC-PR pode exigir os
documentos que entender necessários à verificação da regularidade da profissão
de contabilista. O acórdão foi proferido na sessão de julgamento do dia 10 de
julho. Ainda cabe recurso.
Documentos
necessários
A
empresa Business Contábil e Tributário Ltda impetrou Mandado de Segurança
contra o CRC-PR, para se ver desobrigada de apresentar-lhe os livros e documentos
contábeis de seus clientes, bem como os contratos de prestação de serviços
profissionais e a relação de clientes que estão sob sua responsabilidade
técnica. A ação judicial foi desencadeada como resposta a um e-mail enviado
pelo Conselho, em 19 de julho de 2010, que anunciou para os primeiros dias de
agosto uma fiscalização dos escritórios na cidade de Londrina.
Em
juízo, a Business alegou que tal fiscalização viola a garantia da privacidade e
o sigilo profissional. Sustentou que é ilegal e inconstitucional a Resolução
890/2000 do Conselho Federal de Contabilidade, que dispõe sobre os parâmetros
nacionais de fiscalização, por meio dos CRCs. Portanto, não pode permitir o
acesso a livros e documentos contábeis sob a sua guarda.
O
órgão fiscalizador sustentou em juízo que não praticou qualquer ato ilegal. No
mérito, disse que detém poder de polícia para fiscalizar os profissionais de
sua área, requisitando, para isso, os documentos que entender necessários. A
liminar foi negada.
Violação
de sigilo
O
juiz Marcelo Malucelli, da 3ª Vara Federal de Curitiba, julgou procedente o
Mandado de Segurança. Primeiramente, reconheceu o poder de polícia destas
autarquias na fiscalização profissional, como forma de resguardar os
destinatários de seus serviços de eventuais danos advindos da má ou incorreta
prestação de serviços profissionais, como ocorre na Psicologia, na Medicina e
em outras atividades.
Contudo,
advertiu o juiz, guiando-se pelo parecer do Ministério Público Federal, o
Conselho não está investido de poderes excepcionais, que lhe permitam exercer a
fiscalização do profissional contador por meio de livros e documentos contábeis
de seus clientes. Disse ser necessário observar que estes dados estão
submetidos à norma do artigo 1.190 do Código Civil Brasileiro. Este prescreve
que, ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou
tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para
verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus
livros e fichas, as formalidades prescritas em lei.
Segundo
o Parecer do parquet federal, a Resolução 890/2000 é ilegal, porque autoriza o
Conselho a desenvolver sua ação fiscalizatória sobre as demonstrações e
escrituração contábeis das empresas clientes da sociedade/profissional
contábil.
Em
socorro deste entendimento, o MPF citou um precedente do Tribunal Regional
Federal da 5ª. Região (TRF-5), cuja Ementa diz, em síntese: ‘‘A competência
para o exame dos livros e documentação comerciais foge ao âmbito dos fiscais do
Conselho Regional de Contabilidade, porque é atribuição legal dos fiscais do
Imposto de Renda’’.
Para
o procurador do MPF, o acesso aos livros e documentos contábeis dos empresários
e das sociedades empresarias, bem como aos contratos de prestação de serviços
profissionais e relação de clientes vinculados à sociedade/profissional
contábil, esbarra, ainda, no sigilo profissional. ‘‘Como bem demonstra a
decisão do STJ, proferida no Resp n.º 664.336-DF, a requisição pelo Conselho de
Contabilidade para que a sociedade/profissional contábil submetida à
fiscalização deste apresente informações e documentos em seu poder, em
decorrência do exercício profissional, trata-se de ‘pura e simples quebra de
sigilo de dados profissionais’, sendo inadmitida pela ordem jurídica vigente.’’
Com
a fundamentação, o juiz federal concedeu a ordem para desobrigar a autora a
entregar ao CRC-PR os documentos requisitados. A decisão levou o caso para o
âmbito do TRF-4.
*Jomar Martins é correspondente da revista
Consultor Jurídico no Rio Grande do Sul.
Fonte:
Revista Consultor Jurídico, 17 de agosto de 2012
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